sábado, 29 de janeiro de 2011

História de Antonio Roseno


História Gentilmente cedida por Hermínio Santiago


Desde minha infância que carrego em minhas veias o sangue caminhoneiro, primeiro por meu pai que já fazia parte desta vida quando eu vim ao mundo, depois já criança ele me levava em suas viagens em seu caminhão. Parei meus estudos muito novo só pra andar com meu pai nas longas estradas da vida. Com pouco mais de 18 anos eu já pilotava qualquer carreta, quando dei por mim já estava sozinho nas rodovias deste imenso Brasil, e foi na estrada que conheci Antonia Maria, precisamente em Minas gerais.

Num destes pequenos restaurantes de beira de estrada, havia acabado de jantar, aproveitei o tempo pra ver televisão, foi quando notei aquela mulher me olhando, acendi um cigarro e antes de terminar notei que ela continuava lá, sem nenhum receio passei a observá-la, senti muita tristeza em seu olhar, embora ela tivesse uma beleza escondida em seu sofrimento, mesmo com um pouco de palidez não lhe tirava alguns delínios de ser ainda bem jovem, tinha os cabelos pouco abaixo dos ombros, e em seu colo uma criança com menos de um ano.

Cada vez que ela me olhava sentia que queria me pedir alguma coisa, mais o medo era maior que sua vontade. Chamei um garçom e perguntei quem era a dita que estava com aquela criança de colo. Respondeu que não sabia mais que ela havia chegado muito cedo. Dali em diante não me liguei mais na moça sofrida embora minha consciência me perturbasse, já era uma dez da noite quando me levantei e fui pro meu caminhão afim de prosseguir minha viagem.

Liguei o motor e quando já ia saindo percebi aquela jovem se aproximando, me deu vontade de arrancar, mais uma coisa não deixou. Lentamente ela chegou e quase que não escutei o que ela falou, desci da boleia e perguntei o que ela queria, moço pelo amor de Deus me leve com você. Eu não tinha habito de levar ninguém, primeiro por causa do perigo que o carona representava, e depois aquela criança iria atrapalhar a viagem. Disse que não. Nessa hora vi lágrima descerem em seu rosto, como se eu fosse sua ultima esperança. Subi na boleia e quando ia saindo me bateu uma falta de caridade dentro de meu peito que não tive outra saída.

Meu caminhão seguia veloz a minha maneira, só aquela mulher fazia a diferença. Perguntei o que ela ia fazer em fortaleza, disse que procurar uma tia. Só que a viagem passou a ser incomoda pra mim, pois a criança chorava de vez em quando, descobri que aquela mulher estava com fome, pois desde manhã não comia nada, por isso estava tão pálida, indaguei sobre sua vida e descobri que estava fugindo do marido que lhe maltratava muito e ate queria lhe matar, mostrou-me até algumas marcas em seu corpo das pancadas que ela tinha dado dias antes.

Disse que não tinha nenhum parente em fortaleza, mais por não agüentar mais queria ir embora seja pra onde fosse. Era madrugada quando parei em uma cidade e mandei por uma refeição foi então que vi o quanto ela estava faminta, aquilo me deu remorso em não ter oferecido bem antes comida para aquela jovem mãe. Na manhã seguinte viajamos com mais tranquilidade, a criança já não chorava e Antonia Maria estava mais contente, conversamos e até brinquei com o bebe, enfim me senti bem melhor por minha atitude.

Confesso pra vocês que a viagem tornou-se bastante agradável, dois dias depois chegamos em Fortaleza, Antonia ficou em Messejana e fui descarregar. Dias depois já de volta a são Paulo fiquei a pensar naquela jovem senhora, com aquela criança e sem dinheiro sem conhecer ninguém como ia se arrumar. Passei a olhar a foto que ela tinha me dado, e cada vez que olhava me dava uma sensação que eu ainda não conhecia. Já distante ao ligar pra minha mãe ela falou que uma mulher com um sotaque de fora tinha ligado me procurando. Senti naquela hora uma alegria por saber que ela não me esquecera, e disse pra minha mãe pegar o seu endereço.

Dito aquilo coloquei sua foto no painel e com certeza aquela foi a viagem mais rápida que fiz de são Paulo a fortaleza. Antonia estava trabalhando numa lanchonete apenas pelo pão por causa de seu filhinho. A me ver chegar sorriu de felicidade, e eu não pensei duas vezes. E confesso que nunca me arrependi do meu ato, embora Antonia já fosse casada e tivesse um filho me deu uma felicidade tamanha.

Já faz 15 anos que estamos juntos, já enfrentamos poeiras chuva e cerração. E cada vez que viajo sem ela minha pressa de chegar em casa é tão grande quanto o amor que sinto por aquela mineirinha. "E minha musica do rei não poderia ser outra."

Caminhoneiro



Adailton Moura

0 comentários:

Postar um comentário

Caro Amigo(a): Faça Seu Comentário, Sua Pergunda, Sua Crítica, Seu Elogio e Deixe Seu Nome e E-mail, Que Retornaremos Em Breve!

Blog AM7 - Fera Ferida © 2008 Template by:
SkinCorner